Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
Fernando Pessoa
20.2.05
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1 comment:
Eles sentaram-se à mesa do medo
no banco mesmo a seu lado
sentia-lhe o corpo hirto
e gelado de tão perto
Sentia-lhe o cheiro podre
de tão velho
que o medo perdeu a idade
no labirinto dos homens
e escorre pela sombra dos corredores
Eles sentaram-se à mesa do medo
no banco mesmo a seu lado
ouvia-lhe a boca negra dizer-me:
"não penses, assim não sofres"
Virei a mesa do medo
e pensei
que há mais para virar
virei-me por dentro
até despertar
Eles sentaram-se à mesa do medo
no banco mesmo a seu lado
ouvia-lhe a boca negra dizer-me:
"não penses, assim não sofres"
Virei a mesa do medo
e pensei
que há mais para virar
virei-me por dentro
até despertar
Mafalda Veiga
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