14.12.05

experiencia

experiencia

5.12.05

Sempre me disse que ali moraram antepassados meus que morreram.
Para mim nunca foram vivos, sempre os conheci mortos. sei-o porque me era indiferente ouvi-la gastar-lhes os nomes, quando com o esforço de todas as rugas da face pálida e gasta se lembrava de nomes de homens e de mulheres, e da professora nova que vinha de bicicleta por entre os pinhais escuros e húmidos que lhe lembraram que tinha sido em Novembro desse ano que nascera o seu primeiro filho, que tinha já morrido num ano há muitos séculos atrás mas de que ainda se lembrava como se fosse ontem. ja te disse que és igual ao teu pai? perguntava de tempos a tempos, enquanto falava das pessoas que ali morreram. e das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram. e das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram.
O negro das pingas lembrava o escuro da noite.
Ela, muito velha, pintada de exageros como quem de engano engana a morte, morreu.