31.10.05

não me posso esquecer de dar uma olhadela no que estes senhores andaram a fazer e de saber do que fala este senhor no seu Advertisements for Architecture

25.10.05

gripe

a prova provada de que informção não é o mesmo do que conhecimento é eu ainda não ter percebido se as aves de facto tossem

24.10.05

Fechei os olhos para ver. Depois do susto, estava triste. Tinha os olhos grandes de criança cheios de um lago calmo, tinha uma ruga na pele branca da testa, tinha lábios finos a tremerem muito brandamente. Os meus olhos dentro de mim foram serenos a olhá-la. Pela primeira vez, como se me desse a mão, os seus olhos foram ainda mais doces e os seus lábios finos e belos repousaram num sorriso.

José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão

Menina do anel de lua e estrela
Raios de sol no céu da cidade
Brilho da lua oh oh oh, noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade

Manhã chegando
Luzes morrendo, nesse espelho
Que é nossa cidade
Quem é você, qual o seu nome
Conta pra mim, diz como eu te encontro
Mas deixa o destino, deixe ao acaso
Quem sabe eu te encontro
De noite no Baixo
Brilho da lua oh oh oh, noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade

Caetano Veloso, Lua e Estrela

16.10.05


nunca conseguira perceber o que murmurava aquela voz. o som da ladaínha ecoava vezes sem conta, devolvendo o eco das paredes que ecoavam também de volta, como se a conhecessem já de cor, tantas foram as vezes que o fizeram.

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

palavra sem ser
noite sem lua
alma vazia,
a tua.

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

arde pavio
arde-te só
arde-nos
Vazios.

15.10.05

,

considerem esta frase como uma pequena virgula, que separa sem separar o tempo que passou e o que está por passar

7.10.05


Não me canso desta menina e deste filme.
E a música, a música...

Poema em linha recta

Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

2.10.05

Prueba Superada!!

O problema de spam está por fim resolvido.
podem comentar, o meu antivirus não vos vai fazer mal... a não ser que eu o mande

muitos me têm dito que parece haver dois de mim. Este que vos vai escrevendo sempre que pode, mais ou menos semanalmente, e um outro com quem convivem dia-a-dia.

este mais ponderado, mais calmo, mais consciente de si e dos seus sentimentos que convosco vai partilhando na primeira pessoa ou através de aluns personagens. O outro tímido e inseguro, às vezes estupidamente falador mas quase sempre demasiado calado, apenas observando e quase nunca intervindo.

digo-vos que sou muito dos dois. Sempre tive alguma dificuldade em relacionar-me com os demais. nunca consegui perceber porquê, mas sempre senti isso. Reconheço que tenho evoluido bastante, especialmente nos ultimos dois anos, mas sinto que tenho ainda um longo caminho a percorrer, principalmente quanto a demonstrar sentimentos e afecto. normalmente é preciso muito tempo para me sentir à vontade com uma pessoa. Para me dar a conecer, ou revelar.. enfim, como preferirem. Acontece por vezes que este processo é mais rápido, quando me identifico com alguém, quando gosto mesmo. Mas também nestas situações construo barreiras, nem sempre involuntariamente, por medo ou por qualquer outra razão semelhante. Provoco assim avanços e recuos quando deveria entregar-me sem receios.
A verdade é que não gosto de dar nas vistas, detesto ser o centro das atençoes. também por isso me refugio aqui, neste fundo preto que vêm, onde são as plavras e os seus significados que mais contam, sem jogos, sem distancias, sem ruídos, sem piadas, sem palpites. Bem sei que é por vezes uma fuga facil, mas sinto-a ainda necessária, enquanto tento mudar algumas coisas lá fora, entre mim e o mundo.
Só um desabafo



Apetece frio e chuva
foto deste senhor