Os estores estavam corridos, como quando os deixei da última vez que lá tinha entrado. Retomo mecanismos de outras chegadas e descubro sem esforço a cama. Pouso o malote em cima do colchão que penso nú e sinto o cheiro da roupa de cama por usar. Ofuscado pelos raios de fim de tarde que rompiam tímidos e escuros por entre os buracos de estore, decido por fim acender a luz. Vi aquele quarto vazio. Senti-o também vazio de mim e do que sou. Depressa se amontoaram as lembranças das noites de verão de janela aberta em que adormecia com o luar, das primeiras manhãs de primavera acordado pelas pingas molhadas que lembravam ainda o frio da noite.
Por momentos esqueci-me de mim e lembrei-me do outro que ali morava.
23.9.05
um dia destes conto-te um segredo, disse-lhe pedro. porque não contas já? axo que sei o que me vais dizer. não, um dia destes conto-te que gosto de ti.
Posted by r. at 13:22 3 comments
21.9.05
15.9.05
saboreavam o fim de tarde em aromas de café. Olhavam-se, nos silêncios tímidos que a máquina fabricava por entre o fabrico do café. Era velha, quase antiga. Parecia existir há tanto tempo como o tempo que aqueles silêncios pareciam demorar. Conversavam. a cada silencio as palavras ecoavam vazias, como que esperando pelo olhar para dizer o que não foi dito, todo o resto, tudo. Num impulso, por falta de atenção dos dois, os olhos deixaram-se descansar no espelhar do que viam, reconhecendo o olhar de quem procura ver-se e conhecer o que vê. Souberam-se iguais, distraídos do mundo e do esconder envergonhado do sol. Ele ia por fim contar-lhe a sua estória.
Mas o segredar do café fora agora mais curto e a máquina retomou a labuta e o Vítor gritou lá longe - o café está pronto, e se continuam aí especados ainda perdem o pôr do sol. não foi p’ra isso que vieram? Não vos percebo.
Posted by r. at 04:49 0 comments
13.9.05
Trem das Cores
A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores
Sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um azul
Celeste celestial
Caetano Veloso
Posted by r. at 22:14 0 comments
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