14.12.05

experiencia

experiencia

5.12.05

Sempre me disse que ali moraram antepassados meus que morreram.
Para mim nunca foram vivos, sempre os conheci mortos. sei-o porque me era indiferente ouvi-la gastar-lhes os nomes, quando com o esforço de todas as rugas da face pálida e gasta se lembrava de nomes de homens e de mulheres, e da professora nova que vinha de bicicleta por entre os pinhais escuros e húmidos que lhe lembraram que tinha sido em Novembro desse ano que nascera o seu primeiro filho, que tinha já morrido num ano há muitos séculos atrás mas de que ainda se lembrava como se fosse ontem. ja te disse que és igual ao teu pai? perguntava de tempos a tempos, enquanto falava das pessoas que ali morreram. e das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram. e das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram antes das pessoas que ali morreram.
O negro das pingas lembrava o escuro da noite.
Ela, muito velha, pintada de exageros como quem de engano engana a morte, morreu.

26.11.05

pausa para reflexão

dizem que ando irritado. nao. ando confuso e a precisar de respirar.

13.11.05

e quando os corpos mornos e a roupa quente se gostam, o inverno chega em pingas geladas, perdidas no vento sem norte

10.11.05

pinto-te em cores que só eu sei.
desenho-te em palavras num cenário que é só meu.

as pessoas inertes e sem objectivos de vida irritam-me

5.11.05

Nunca, por mais que me cruze com as pessoas a lerem os meus livros nas paragens de autocarro, nunca, por mais que veja universitários a caminharem despreocupados com os meus livros debaixo do braço, nunca, por mais que traduzam os meus livros e haja pessoas a lê-los em línguas cheias de consoantes, nunca hei-de ficar indiferente no momento em que alguém esteja a ler um livro meu perto de mim. Nas palavras que escrevi permanece aquilo que pensei durante um momento, ou durante um ano, ou durante a vida toda. Nas palavras que escrevi permanece aquilo que fui, aquilo que não sei se ainda sou. Quando alguém lê um livro meu perto de mim, sou uma criança envergonhada.

José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão

31.10.05

não me posso esquecer de dar uma olhadela no que estes senhores andaram a fazer e de saber do que fala este senhor no seu Advertisements for Architecture

25.10.05

gripe

a prova provada de que informção não é o mesmo do que conhecimento é eu ainda não ter percebido se as aves de facto tossem

24.10.05

Fechei os olhos para ver. Depois do susto, estava triste. Tinha os olhos grandes de criança cheios de um lago calmo, tinha uma ruga na pele branca da testa, tinha lábios finos a tremerem muito brandamente. Os meus olhos dentro de mim foram serenos a olhá-la. Pela primeira vez, como se me desse a mão, os seus olhos foram ainda mais doces e os seus lábios finos e belos repousaram num sorriso.

José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão

Menina do anel de lua e estrela
Raios de sol no céu da cidade
Brilho da lua oh oh oh, noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade

Manhã chegando
Luzes morrendo, nesse espelho
Que é nossa cidade
Quem é você, qual o seu nome
Conta pra mim, diz como eu te encontro
Mas deixa o destino, deixe ao acaso
Quem sabe eu te encontro
De noite no Baixo
Brilho da lua oh oh oh, noite é bem tarde
Penso em você, fico com saudade

Caetano Veloso, Lua e Estrela

16.10.05


nunca conseguira perceber o que murmurava aquela voz. o som da ladaínha ecoava vezes sem conta, devolvendo o eco das paredes que ecoavam também de volta, como se a conhecessem já de cor, tantas foram as vezes que o fizeram.

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

palavra sem ser
noite sem lua
alma vazia,
a tua.

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

arde pavio
arde-te só
arde-me
vazio

arde pavio
arde-te só
arde-nos
Vazios.

15.10.05

,

considerem esta frase como uma pequena virgula, que separa sem separar o tempo que passou e o que está por passar

7.10.05


Não me canso desta menina e deste filme.
E a música, a música...

Poema em linha recta

Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

2.10.05

Prueba Superada!!

O problema de spam está por fim resolvido.
podem comentar, o meu antivirus não vos vai fazer mal... a não ser que eu o mande

muitos me têm dito que parece haver dois de mim. Este que vos vai escrevendo sempre que pode, mais ou menos semanalmente, e um outro com quem convivem dia-a-dia.

este mais ponderado, mais calmo, mais consciente de si e dos seus sentimentos que convosco vai partilhando na primeira pessoa ou através de aluns personagens. O outro tímido e inseguro, às vezes estupidamente falador mas quase sempre demasiado calado, apenas observando e quase nunca intervindo.

digo-vos que sou muito dos dois. Sempre tive alguma dificuldade em relacionar-me com os demais. nunca consegui perceber porquê, mas sempre senti isso. Reconheço que tenho evoluido bastante, especialmente nos ultimos dois anos, mas sinto que tenho ainda um longo caminho a percorrer, principalmente quanto a demonstrar sentimentos e afecto. normalmente é preciso muito tempo para me sentir à vontade com uma pessoa. Para me dar a conecer, ou revelar.. enfim, como preferirem. Acontece por vezes que este processo é mais rápido, quando me identifico com alguém, quando gosto mesmo. Mas também nestas situações construo barreiras, nem sempre involuntariamente, por medo ou por qualquer outra razão semelhante. Provoco assim avanços e recuos quando deveria entregar-me sem receios.
A verdade é que não gosto de dar nas vistas, detesto ser o centro das atençoes. também por isso me refugio aqui, neste fundo preto que vêm, onde são as plavras e os seus significados que mais contam, sem jogos, sem distancias, sem ruídos, sem piadas, sem palpites. Bem sei que é por vezes uma fuga facil, mas sinto-a ainda necessária, enquanto tento mudar algumas coisas lá fora, entre mim e o mundo.
Só um desabafo



Apetece frio e chuva
foto deste senhor

23.9.05

Os estores estavam corridos, como quando os deixei da última vez que lá tinha entrado. Retomo mecanismos de outras chegadas e descubro sem esforço a cama. Pouso o malote em cima do colchão que penso nú e sinto o cheiro da roupa de cama por usar. Ofuscado pelos raios de fim de tarde que rompiam tímidos e escuros por entre os buracos de estore, decido por fim acender a luz. Vi aquele quarto vazio. Senti-o também vazio de mim e do que sou. Depressa se amontoaram as lembranças das noites de verão de janela aberta em que adormecia com o luar, das primeiras manhãs de primavera acordado pelas pingas molhadas que lembravam ainda o frio da noite.
Por momentos esqueci-me de mim e lembrei-me do outro que ali morava.

um dia destes conto-te um segredo, disse-lhe pedro. porque não contas já? axo que sei o que me vais dizer. não, um dia destes conto-te que gosto de ti.

21.9.05




Posto isto, estou oficialmente de férias

15.9.05

saboreavam o fim de tarde em aromas de café. Olhavam-se, nos silêncios tímidos que a máquina fabricava por entre o fabrico do café. Era velha, quase antiga. Parecia existir há tanto tempo como o tempo que aqueles silêncios pareciam demorar. Conversavam. a cada silencio as palavras ecoavam vazias, como que esperando pelo olhar para dizer o que não foi dito, todo o resto, tudo. Num impulso, por falta de atenção dos dois, os olhos deixaram-se descansar no espelhar do que viam, reconhecendo o olhar de quem procura ver-se e conhecer o que vê. Souberam-se iguais, distraídos do mundo e do esconder envergonhado do sol. Ele ia por fim contar-lhe a sua estória.
Mas o segredar do café fora agora mais curto e a máquina retomou a labuta e o Vítor gritou lá longe - o café está pronto, e se continuam aí especados ainda perdem o pôr do sol. não foi p’ra isso que vieram? Não vos percebo.

13.9.05

Trem das Cores

A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores
Sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um azul
Celeste celestial

Caetano Veloso

30.8.05

Little child

Looking trough your eyes
Assailant in your soul
Found so much love inside
Thought you could save us all

The sweet sound of your lips
Reminds me of those days
When you childly sang your heart
In love stories and lullabies

Cherished dreams we had
Back in the age of ten
Our hands and heads were small
And yet, the size of the world


r.

5.8.05

Talvez todos achemos que não temos total controle sobre nós, sobre a dimensão física que nos completa, que nos apresenta ao mundo dos iguais, como fronteira entre o mundo de dentro e o de fora. Penso nisto, quando de mim fujo e ao longe me vejo. Por vezes sinto a falta de ligação entre o que sou e o que mostro. Não, não, não o que mostro, mas o que se vê. Sinto por vezes uma prisão, um invólucro desajeitado que comigo coexiste, que suja de frio distante e bruto as cores macias e ternas de que pensamos ser feitos.

Invejo os que não vêm para além de si. Os que não duvidam, os que têm sempre certezas. Invejo as coisas que não pensam e apenas existem, porque para elas existir resume-se a não pensar sequer se existem.

19.7.05

porque é que a vida é tao complicada?

2.7.05

tentem

Escolhe um grupo e responde com títulos de temas interpretados por ele: MUSE

és masculino ou feminino?: Muscle Museum
descreve-te a ti próprio: The Smallprint
como algumas pessoas se sentem em relação a ti: Feeling Good
como é que te sentes contigo próprio: Rulled by Secrecy
descreve onde gostavas de estar: In Your World
descreve como vives: Butterflies and Hurricanes
descreve como amas: Endlessly
o que pedias se pudesses satisfazer um único desejo: Falling Away With You
partilha algumas palavras de sabedoria: Thoughts of a Dying Atheist
agora despede-te: Blackout

1.7.05

Linda
entrou tão insegura,
mas com tanta candura
me chamando a seus braços

Linda
me fez olhar você
nesse sem jeito tão seu
me cegando em seus traços

Linda
você me enfeitiçou
assim que você me olhou
de lá desses olhos negros

Linda
você iluminou meu dia
aqueceu minha manhã fria
com esses sorrisos largos

Linda Linda de tão Linda
que mexeu meu coração
me tirou de meus cansaços

e me fez cantar essa canção

r.Mai05

tentem outra vez, agora com pronuncia brásilêra, ao som acústico do viôlão.



29.6.05

quando o som de tuas solas
me chamar de meu dormente,
não te escondas nem te mostres,
quero que passes indiferente.
porque em meu sonho tu és eu,

só minha sombra te denuncia,
deambulando, vagabundo,
nas horas em que a noite é dia

r. Fev05

28.6.05

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar.
Bernardo Soares

Já Pessoa dizia que se se pudesse ouvir o olhar...
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

21.6.05

Passa demoradamente os olhos cansados do sono da vida, por entre linhas de letras vazias de significados e de poesia. Dispersa apenas por um instante, tenta ouvir para além dos sons e formas dadas por outros. Sente-lhes vida, não estão presas nem mortas. Percebe-as agora. e divaga e brinca e dá-lhes novas cores e significados, tão mais longe de suas celas, tão mais longe da razão, tão mais perto da afeição dos sentidos.

Junta agora fins de frase, como uma criança feliz, que de palavras fogo e noite constrói um sonho que o aquece até ao despertar do dia.

13.6.05

As palavras, as de Eugénio

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

12.6.05

Lali Puna



Muita atenção com esta menina. Chama-se Valerie Trebeljahr e é a vocalista dos Lali Puna, uma banda alemã que vale a pena seguir bem de perto. Procurem o Cd de originais da banda, chama-se Faking The Books. Muito boa música

"Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto."

CLÃ - Problema de Expressão

Mais grandes músicas e letras... ou melhor... músicas, porque tb a melodia das palavras toca bem alto, lá bem no fundo.

11.6.05

Não as espera mais perdidas, deseja que voltem sempre e sempre e com mais força. Trazem agora cheiros e sabores e lembranças de proximidades e tanta beleza como a quem as palavras levam. Por momentos, crê que as grita ao mundo em voz firme, com uma selvajaria imensa. Mas acalma na ânsia de explodir, como quem perde para si um momento que passou.
Se algo lhe acontecer pede só que juntem o pouco dos pedaços que de si sobraram, e que o ajudem a recomeçar,
noutro tempo, noutro lugar.

30.5.05

Isto a juntar a um dia mau. Que sentimento de culpa...
by the way, lembrei-me agora que ainda não almocei.

Sou tão distraído. Esqueço-me das coisas. Não é não ligar, porque ligo, mas esqueço-me simplesmente. Hoje aconteceu outra vez. Irrito-me a mim mesmo com isto. O sentimento de impotência em saber que esqueci...
Preciso de descanso.. muito

28.5.05

E pedro decidiu escrever-lhe. cabelos negros como a cor de tua pele/caracois soltos como o som de teu sorrir. Esperou, esperou. Guardou o que dizia para si. Pensou que o vento, que lhe arrefecia o calor do embaraço, lhe roubaria as palavras que teimava em não esquecer. Tão mais fácil se roubasse ó Pedro!

25.5.05

In Between Dreams



Sinal de que o Verão está a chegar, aí está o novo cd de Jack Johnson.
Ele e a guitarra, biquinis e corpos dourados, banhados pelo laranja aveludado de fim de tarde.
Muito boa onda

19.5.05

"Nem por um segundo largo a mão
da perfeição do teu desenho"

1.5.05

navegar,
nos ventos longinquos da memória.
que de pedra planície e mar
construiram acérrima glória

desencobrir,
ressuscitar pedaços de história
os outros que levam a sentir
uma tao nobre convocatória


há melhor ópio da grandeza
do que a grandeza dos que são os nossos?

r.

11.4.05



Bora!! Está quase

10.4.05



Cresci com a imagem do Siza segurando, ora a caneta ora o cigarro, de barba e cabelo um pouco grisalhos. Confesso alguma emoção ao vê-lo agora mais velho e cansado aquando da abertura da exposição em Serralves.

(não estive lá, vi na TV, claro)

31.3.05

:S

10.3.05

Os bons filmes são aqueles que nos fazem torcer pelo beijo heróico dos protagonistas. Os filmes geniais são os que nos deixam uma semana calados, mudos, que nos fazem pensar de que nada vale uma palavra nossa, que estrague a lembrança das últimas linhas de texto de um final memorável.


I guess I could be pretty pissed
of f about what happened to me...
but it's hard to stay mad, when
there's so much beauty in the
world. Sometimes I feel like I'm
seeing it all at once, and it's too
much, my heart fills up like a
balloon that's about to burst...

LESTER continues to FLY above the clouds, LAUGHING.

And then I remember to relax, and
stop trying to hold on to it, and
then it flows through me like rain
and I can't feel anything but
gratitude for every single moment
of my stupid little life...

He's SOARING higher and higher...

You have no idea what I'm talking
about, I'm sure... but don't
worry...

And He SOARS out OF sight.

You will someday.

FADE to BLACK.

20.2.05

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

Fernando Pessoa

1.2.05

há musicas assim

eerie whispers
trapped beneath my pillow
won't let me sleep
your memories

and I know you're in this room
I'm sure I heard you sigh
Floating in between
where our worlds collide

it scares the hell out of me
and the end is all I can see
and it scares the hell out of me
and the end is all I can see

and I know the moment's near
and there's nothing you can do
look through a faithless eye
are you afraid to die?

It scares the hell out of me
and the end is all I can see
and it scares the hell out of me
and the end is all I can see

MUSE - Thoughts of a Dying Atheist

26.1.05

Se tivessem oportunidade de voltar atrás no tempo, nem que fosse por 5 minutos, que situação escolhiam? E mesmo se pudessem voltar atrás... faziam-no realmente? mesmo que o tenham dito na sinceridade do repentismo, na melhor das intenções? se algo tivesse escapado à atenção da nossa reflexão de nós, durante tanto tempo, mesmo que os estimulos da sua lembrança tenham sido vários e constantes... ao chegar fora de tempo deve ser dita ou esquecida para sempre?

hoje deixo-vos esta que é minha.

Só um pensamento, tenho andado nostálgico: Buscamos tantas vezes o paladar aveludado da lembrança e, na preguiça destes momentos, saboreamo-lo demoradamente. É uma ideia confortável, a de comprarmos de volta fragmentos do que já fomos, sonhando-os em alimento para a vida de fora.

21.1.05

"Também aqui Deus concede que não falte o enigma de viver"

"Alhures, sem dúvida, é que os poentes são. Mas até deste quarto andar sobre a cidade se pode pensar no infinito. Um infinito com armazéns em baixo, é certo, mas com estrelas no fim..."
Retirado do texto último do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa

li e gostei muito, ou melhor... gostei-me lê-lo ;)

O que se faz por aqui


A Maquete está a começar

14.1.05

....

IMI - Imposto Municipal Sobre Imóveis
IMT - Imposto Municipal Sobre as Transmissoes Anerosas

Tudo está bem quando acaba bem

Impostos e Taxas



Folheando folhas brancas, meias vazias meias por escrever
apercebem-se os dedos cansados que estão fartos de tanto ler.
Param, surpresos, e meditam, no branco que lembram riscado,
na certeza de que no fim apenas aquele desenho será lembrado!

Já nem me lembrava deste desenho, na aula de impostos e taxas de PRU.
Alguém sabe o que é o IMI? e o IMT? porra

8.1.05

Hoje adormeço-me assim, na simplicidade das coisas boas e bonitas

<< Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural so que resulta do pequeno tamanho da sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se o mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade...

Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura.

Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os grandes astros, e sou livre como um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.

Sou do tamanho do que vejo! Cada vez mais penso nesta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. Sou do tamanho do que vejo! Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até as altas estrelas que se reflectem nele, e, assim, em certo modo, ali estão.

E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. Sou do tamanho do que vejo! E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meionegro do horizonte.

Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvajaria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.

Mas recolho-me e abrando. Sou do tamanho do que vejo! E a frase fica-me sendo a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer.>>


Fernando Pessoa / Bernardo Soares - Livro do Desassossego

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